sexta-feira, 20 de maio de 2011

RESENHA - Pensando Tecnologia e sociedade

Na atualidade não é raro nos depararmos com estudos acadêmicos a cerca de tecnologias, abordando suas técnicas, sua operacionalização, seus conceitos, seus elementos. Porém é necessário abordá-la de uma maneira mais crítica e abrangente, não pensando apenas nos aparatos tecnológicos, mas também em suas implicações nas relações sociais.
A autora do artigo “Pensando Tecnologia e Sociedade” aponta que o objetivo do trabalho vai além do que simplesmente analisar as tecnologias de informação emergentes na contemporaneidade, mas também compreender as entrelinhas que estão postas nesse processo, bem como a análise de suas características e uma compreensão mais aproximada das tensões próprias desse momento e de suas implicações na organização da sociedade.
Porém, desde os primórdios de seu surgimento, e de acordo com cada contexto histórico, a tecnologia vem sendo vista e interpretada de formas diferentes, dessa forma a autora apenas cita sucintamente essas formas de interpretação, uma vez que esse não é o objetivo central de seu estudo.
Dessa forma, Tapajós explana que fazer uma análise acerca da vinculação da tecnologia como um fato social determinado por fatores políticos e econômicos ainda é passo a ser dado, uma vez que na maioria das vezes ela é vista, apenas, como uma ferramenta para facilitar a vida do ser humano e tornar sua vida cada vez mais prática.
Assim, nesta concepção, a tecnologia é um fato que independe de nosso desejo, ou seja, nada tem a ver com a representação que ele faz, assim ela é vista como uma instituição, um conjunto de certezas aliada a estratégias financeiras, que contradiz a tradição humanista nos anos 30, que se opunha ao ideário de que toda tecnologia é sempre benéfica.
Nos anos 80 surge uma nova vertente referente a tecnologia, nesse período ela passa a ser vista como uma história de sistemas, o que explicaria a um só tempo a construção social e a sociedade tal como ela é percebida hoje.
Depois, alguns autores também interpretaram a tecnologia como uma rede de atores heterogêneos, outros como ela sendo uma forma de pensar simultaneamente a presença de um único ator que relaciona e redefine os dados de uma rede, e por último a concepção da tecnologia como construção, tanto individuais como coletivas de grupos sociais específicos.
Após elencar esses elementos Luziele Maria Tapajós faz uma análise sobre essa aceleração da dinâmica de vida da sociedade atual. A autora faz novamente a reflexão de que as concepções sobre a tecnologia estão máximamente voltadas à uma visão muito particular de mundo e de sociedade, sem a profundidade necessária, visto que tal tema se apresenta de forma complexa.

Apoiada em diversos autores, Tapajós afirma que a informatização é um movimento irreversível. Afirma que há a formação de uma nova humanidade onde existem dois mundos o rela e o virtual (LEVY). Coloca que segundo Rosnay, o futuro trará novas bases para a relação entre os homens e a tecnologia, nesta “nova humanidade” a vida virtual é real, observamos o surgimento da cibercultura.
Apesar dos benefícios a nova estrutura é preocupante, a vida cotidiana, ganha uma nova dinâmica, afirma que ” […] os avanços tecnológicos contemporâneos são o fator mais nefasto da civilização, que resultam em perversos efeitos morais, políticos e culturais[...]”, para Tapajós afirma que segundo os autores o tempo virtual não se identifica com o tempo real. A vida se tornou acelerada, há uma superexposição da vida, uma crise de referencias, e que excesso de informação esta gerando uma crise. A sociedade não foi preparada para lidar com o excesso de tecnologia gera, afirma que segundo Postman: “este fluxo […] é o responsável pela maior devastação teórica e moral na história humana”.
Levando para a perspectiva crítica é possível a observação de que não há possibilidade de “explicar, conhecer ou analisar” a sociedade contemporânea sem falar em desenvolvimento e uso das tecnologias. Observamos uma nova sociedade, novas relações sociais, novas formas de produção e convivência (teletrabalho e teleconferência). Por outro lado deve-se perceber que algumas transformações foram significativas, mas devem ser entendidas em sua dimensão “concreta “ na realidade. Coloca também que há uma indefinição entre se estamos na era moderna ou pós moderna.
A autora coloca que os iluministas acreditavam que o desenvolvimento da “inteligência” e a “razão humana” produziriam novas formas de se organizar socialmente. Afirma que o projeto não se concretizou, portanto, não pode-se afirmar a existência do “pós moderno”. Coloca os avanços da era moderna, os avanços da forças sociais, o antropocentrismo, entre outros, mas reconhece suas contradições como a exclusão social, crescimento urbano desigual.
Afirma ainda que a leitura da realidade faz parecer todo o conhecimento acumulado ao longo da história é irrelevante frente ao que se tem no período pós revolução informacional.
A definição entre o modernos e o pós moderno depende sobretudo dos estudos sobre esta nova tecnologia.
Não devemos desconsiderar as mudanças na contemporaneidade referente ao uso das condições de vida e virtualidade em que se encontra a sociedade, ao mesmo tempo, em que mudanças ainda maiores, surgirão provavelmente através da tecnologia intrínseca no cotidiano. Esse pensamento está sendo incorporado no imaginário cultural da época presente se apresentando como forma de adequação a essas mudanças e condições que nos envolve no presente século.
Essa idéia de aceitação da cibercultura de forma simples como se fosse algo de ordem natural e uma sujeição da cultura como se fosse a realização soberana da humanidade, traz na verdade, a aceleração que essa tecnologia, ao mesmo tempo que se desenvolve e carrega de informações o sistema imunológico do ser humano, assim como trata os autores, cria situações onde não exista armas que sejam suficientes para proporcionarem de imediato, uma crítica a tudo que se apresenta e a todas os subsídios oferecidos por essa tecnologia.
Essas modificações surgiram de forma clara na transição do sistema industrial de manufatura para o então chamado modelo de indústria moderna, com o surgimento de maquinaria e de novas forças motrizes, proporcionando futuramente, base suficiente para condicionalidades mais específicas oferecendo fomento para inovadoras condições no modo de produção aumentando consideravelmente a produtividade de modo geral.
Questões como essas que envolve tecnologia e revolução informacional devem ser vistas de forma grupal, ou seja, esses fatos estão estritamente ligados a um projeto de sociedade e um conjunto de ações políticas envolvendo o âmbito econômico desenvolvendo-se de configuração heterogênea as relações e a forma de produzir e reproduzir a vida em sociedade.
Desse modo, é imprescindível uma análise mais próxima do tema de técnica, tecnologia e seus derivativos, visto que as conseqüências no mundo contemporâneo com um desenho globalizante, está inserido em um novo modelo e/ou adequação a expansão do capitalismo, com uma atenuante de complexidade, um viés neoliberal conduzindo a flexibilização e à desregulamentação dos direitos conquistados frente à falsa – livre concorrência, unindo os desiguais e mantendo as desigualdades estacionadas e inalteradas conectando países numa desigual rede de trocas.
No demais, a crítica que se propõem a encarar de modo não tão otimista esse formato oferecido pelas técnicas e tecnologia envolvendo muito mais do que indivíduos, ao contrário disso, envolve nações e projetos societários formando uma margem onde a maioria que se rende a todo esse conhecimento se tornará mais vulnerável diante do estado de alienação, proveniente de uma expectativa otimista e alienada de deslocação das mazelas e das categorias concretas da vida e de todo um contexto histórico.

Resenha baseada no Texto "Pensando Tecnologia e sociedade" DE
Luziele Maria Tapajós
Profa. Do Departamento de Serviço Social
Da Universidade Federal de Santa Catarina
Doutoranda / PUC SP

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